Cheguei, o mar batia contente na areia, a lua estava lá. Mais linda do que sempre e seu brilho me fascina, ela sabia que eu viria, não eram precisas apresentações. Já nos conhecíamos.
O vento também veio ao meu encontro, dando-me um suave beijo. Fecho os olhos. Estávamos felizes. Decido ir até o fim da praia, acanhada; o mar imenso então, toca meus pés com delicadeza, percebo que fiz a coisa certa. Sem virar as costas me afasto, dando espaço para o grande mar, ele entende e não recusa. É o objetivo.
As estrelas brilham no céu radiantes, brigando entre si, pra saber a quem eu vim ver.
- Ela veio ver a mim, diz a mais brilhante.
- Não! Ela veio me ver! Diz a mais próxima da lua.
Eu não estava lá por nenhuma delas. Estava por todas elas. Foi o que lhes disse; elas estão felizes, parecendo precisar da minha presença. Eu que preciso delas.
A lua irrita-se com a pouca atenção que lhe dedico, então ela brilha intensamente, obrigando-me a olhá-la. O mar também olha, ele vibra. A lua o faz feliz. É à noite que eles consumam seu amor, um do outro, o outro de um.
O vento mais uma vez vem ao meu encontro e brinca com minhas roupas, fazendo-me sorrir. Ele talvez as esteja fazendo cócegas; elas também estão sorrindo.
A sensação de estar nesse lugar me traz paz, mas não me completa. Resolvo quebrar o silêncio e timidamente pergunto ao mar:
- Por que me sinto tão vazia e incompleta? Por que sou seca e amarga? Por que tenho a alma idosa das pessoas a quem recrimino?
A lua se esconde atrás das nuves de algodão, nunca adaptou-se à tristeza. Sempre a viu. O mar, por outro lado, quebrou mais intensamente, fazendo-me corar. Abaixo a cabeça tímida, resolvo me sentar e o vento me acarinha. ” É normal, minha querida. Não se sinta só, estamos aqui com você.” O mar nada diz, ele espera que eu me acalme; assim eu fiz.
Dessa vez ele quebra o silêncio: - Mulher, você já amou?
- Sim - Respondo - Ele sabe que não. Eu também.
- Mulher, você já foi amada?
- Não. Ele sabe que persisto em mentir. Eu também, mas não entendo o porquê.
Faz então a pergunta derradeira, a que mais toca e eu sei que é o que ele deseja.
- Mulher, você se ama? Ele pergunta resoluto.
- Não como gostaria. Respondo sinceramente.
Ele relaxa e quebra numa deliciosa onda. Espera um instante, e em seguida diz:
- Primeiro, se ame. Isso preencherá o vazio de sua alma.
Eu espero outras instruções, percebo que o mar está triste, ele comtempla seu amor. Ela vai embora, ele sabe disso. Eles despedem-se. Eu não interrompo.
Eu também comtemplo a lua em sua magnitude, rica e graciosa. Sorrio. Ela brilha em retributo. Cada vez mais, sua luz fica mais fraca e com ela vai-se a escuridão.
O vento torna-se uma suave brisa, ela brinca com minha pele e naquele lugar, eu consigo sorrir.
O mar então quebra o silêncio e dá sua segunda instrução:
- Quando aprender a se amar, ame a vida, mulher. Sua mente se tranquilizará e a paz que deseja lhe virá em seguida.
O sol começa a raiar. E é de um laranja que tira minha atenção do mar, mas ele não se chateia. Ele é magnânimo.
O tempo passa um pouco e enfim eu vejo o sol nascer; num amarelo-claro, lindo.
O mar, dessa vez, pede minha atenção quebrando vagarosamente perto de meus pés.
- E por fim, mulher, ame alguém. Ele sabe que é a tarfea mais difícil. Eu também, mas não pensei que seria fácil. Eu não pensei que seria nada.
- Com farei pra realizar tudo isso? Minha voz tem um ínfimo desespero, me calo.
- Terás de descobrir, pois, é a sua vida. Ele diz e eu percebo que sua voz não é autoritária, é benevolente.
Olhamo-nos por um tempo, a brisa macia me acaricia, fazendo com que eu feche os olhos. Foi a deixa.
- Você está pronta para isto? Ele pergunta. Mas minha resposta não vem de imediato.
- Não - respondo com toda sinceridade que consigo, o mar já está cansado das minhas mentiras. Eu também - mas estou disposta a tentar.
Ele nada mais me diz. O céu está azul anil, repleto de grandes cadeias de algodão, o mar está relaxado, o sol está brilhando e a brisa me toca com suavidade.
Me aproximo um pouco mais. Fecho os olhos. Era tudo que eu precisava saber.
” …O vento beija meus cabelos, as ondas mandam em minhas pernas, o sol abraça o meu corpo, meu coração canta feliz.”
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